terça-feira, 27 de março de 2012

****BRINCANDO DE SER****


Em, 27.03.12

Li um comentário, sobre um texto de Clarisse Lispector “se eu fosse eu”! Apesar de não tê-lo lido, ficou na cabeça essa ideia.

Pensei com meus botões ou talvez comigo mesma, na hipótese aventada. Partindo da premissa que inúmeras vezes nós não somos nós e sim o que os outros gostaríamos que fossemos, ou ainda, o que a gente gostaria de fazer os outros pensarem que nós somos, resolvi escrever esse texto.

Muita coisa eu sei que faria e muitas certamente que não... seria uma coisa meio radical....nunca seria de centro....

Se eu fosse eu, não iria a aniversários de crianças pois já não são como as de antigamente e me enlouquecem em questão de minutos. Não iria a enterros e nem a missas de sétimo dia...Jesus, eu odeio...acho deprimente demais...isso sem considerar as roupas com cheiro de mofo que me levam a uma espirradeira sem par.

De vez em quando sairia do sério, não seria tão certinha e chutaria os chatos de perto de mim, literalmente! Não ouviria, histórias de pescador e muito menos de torcedores fundamentalistas, que ficam espantados quando você diz que não sabe o nome do artilheiro de tal time, que marcou cinco gols numa partida X....aí é demais pro meu eu...esse e o outro!

Se eu fosse eu, contrataria um motorista, não pra dirigir (adoro) mas para manter o meu carro funcionando, ou seja, pneus calibrados, todos os óleos em dia (são tantos!) o filtro não sei das contas, lavasse o dito cujo à cada dois dias, o aspirasse e o deixasse perfumadinho. Ia esquecendo, que achasse e desse um fim emblemático à todos os grilos que encontrasse, pois detesto carro com barulhos irritantes!

Se eu fosse eu, seria desconectada de tudo quanto fosse relógio...só iria seja lá pra onde, na hora em que eu achasse que deveria ir....esse meu eu é fantástico, mesmo!

Outra coisa, jamais viajaria espremida na poltrona do meio de um avião, pois não é viagem, é martírio!

Tomar coca cola quente é uma coisa que nem na casa do Papa eu tomaria...é muito melhor um vidro de Iodeto de Potássio pois contém mentol, que dá uma ideia de refrescância!

Tem um tal de doce de Buriti que eu abomino, e certa vez o meu eu, não o recusou e tive de comê-lo, quase morrendo e buscando um vaso para despejá-lo! Ao mesmo tempo tive medo de que a dona da casa achasse que como eu teria comido muito rapidamente, seria por gostar demais e repetisse a dose....aí era um caso de polícia...e de “lascar as apragatas,” como diz o matuto das bandas de cá.

Fazer certas coisas, como por exemplo, visitar uma feira de artesanato, para agradar a uma amiga é desesperador e esse meu eu, não suportaria. Se eu fosse eu, não me suportaria...pois dá até medo...

Se eu fosse eu, não passariam batidas as coisas que eu detesto, reagiria...deixaria sempre minha lágrimas rolarem, até causarem uma enchente, bronquearia mais, reclamaria sempre ao invés de ficar só olhando ali no meu canto...

Se eu fosse eu, minhas refeições não seriam feitas em horários pré-estabelecidos mas na hora em que meu organismo chiasse.

Sou notívaga, mas meu eu não faria o meu amor, ficar acordado me fazendo companhia, embora eu jure que eu até gostasse. Mas com certeza o agasalharia, fofaria os travesseiros, traria um chá, antes nos amaríamos é claro, meu eu não é de ferro! Depois cantaria um acalanto ao seu ouvido para que ele dormisse tranquilo! Voltaria em seguida aos meus livros, discos, retratos, e ao lanche que eu sempre faço, depois que todos adormecem.

Acordaria cedo, para com um sorriso iluminado dizer bom dia ao sol...caminharia errado buscando caminho certo.

Se eu fosse eu, sorriria de muitas situações, que eu sendo o que as outras pessoas pensam, teria que me conter. Na ocasião certa, como uma topada, por exemplo, diria um sonoro palavrão para aliviar a dor.

Não fingiria certas raivas que eu disfarço e diria mais “sim”, principalmente, pois lá no meu eu, o “SIM” está em neon.

Na maior parte do tempo eu sou eu mesma, para a felicidade dos que comigo convivem.

Eu sou totalmente eu, quando escrevo, quando amo, quando sorrio, quando sonho, quando ofendo e peço perdão, quando peço por favor, me desculpe!

Eu mal consigo me acompanhar, pelo tanto que eu faço e desfaço, com as coisas de menor importância. Ainda bem, é que nem sempre sou eu!

Ah! Se eu pudesse não teria feito a primeira comunhão com o padre que quase me excomunga por errar a Salve Rainha bem no meio dela...foi demais, se não tivesse sido tão trágico teria sido cômico,

Acho que se eu fosse eu, as vinte e quatro horas do dia, eu enlouqueceria e ninguém me salvaria.
-Fortaleza-

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