segunda-feira, 19 de março de 2012

****O QUE PODE FAZER UM PERFUME****


Em, 19.03.12

Lembrei de uma amiga que há muito não vejo...certa feita ela contou essa história que agora eu passo a narrar.

O dia amanhecera nublado e segundo a meteorologia seria um dia de chuva mas, minha amiga não se liga nisso! Saiu sem sombrinha e programou compras em um local distante de sua casa.

Após horas de rodopio e tendo experimentado quase todos os sapatos que encontrou, comprou dois pares muito elegantes. Minha amiga, ah! seu nome é Maysa! Bem, ela adora sapatos e sabe andar bem, em cima dos bichinhos...pisa como ninguém.

Nesse dia, após as benditas compras, já bem próximo à porta de saída, ela sentiu um cheiro...balançou a cabeça e pensou que estava sonhando. Aspirou profundamente o ar, como se para comprovar de que não se enganara...e o perfume lhe adentrou as narinas, deixando-a perturbadíssima. Há vários anos não pensava nele e muito menos em seu cheiro! É de matar, pensou, não veio mas mandou um representante.

E na manhã daquele sábado, ela que sempre dizia querer um lugar para chorar, o fez copiosamente em meio a transeuntes que a contemplavam com complacência. Rapidamente ao perceber o vexame, retirou da bolsa lencinhos de papel, e pôs sobre o avermelhado nariz, uns lindos óculos, cuja marca agora eu esqueci.

Aquele cheiro de pinho tirou-a do controle de si mesma!ela foi por assim dizer, transportada no tempo para um tempo que ela resolvera esquecer. E, de repente, tudo estava ali, à sua frente, claríssimo! Inclusive o dia da despedida!veio tudo como uma enxurrada de lembranças que a sufocaram.

Reviu o filme e pensou que não havia sido de todo mal, mas se fosse dar uma nota, certamente seria um cinco ou abaixo disso, quem sabe uns dias de dez! Mas mesmo assim, a média não subiria muito não. Tudo foi visto e revivido rapidamente.

Ela não entendia, por que os cheiros permanecem na memória seletiva. Aquele era do homem que a fez tão feliz por um tempo, mas que já passara há muitos anos. Ela pensou e achou que ele tinha sido feliz também! Mas juntos, não dava mais. O inesperado trouxera à sua mente, lembranças que ela julgou haver descartado, mas que engano! A mente humana é incrível, disse a ela quando me contou o que se passara.

Era como se ela tivesse acabado de encontrá-lo. Ela chorava e as lágrimas e a chuva lhe banhavam o rosto. Nariz vermelho, chaves na mão, procurando o carro, que em seu desatino esquecera onde havia estacionado. Era uma zebra só, pensou Maysa. Deveria ter ficado na cama hoje, ah! se devia.

Estava literalmente molhada, mas nem percebia o quanto, até observar que as pessoa passavam por ela e a olhavam...pelo choro copioso e por estar sem nenhuma proteção contra a chuva, Mas, com relação às pessoas, ela nem ligava, pois sempre fora do jeito que era, sem ligar para o que as pessoas pensavam. Com a idade isso era até motivo de piada para ela. Menos mal para ela, diante dessa inusitada situação.

Bem, tudo enlameado e Maysa a desfilar seus sapatos novos encharcados, era o fim mesmo.

Finalmente já chorando quase nada, ela achou o carro dentre os milhares ali estacionados, jurando que na próxima vez, viria de carro. Havia pago o estacionamento, e agora entrara no carro, não sem antes bater com a cabeça na porta, deixar a bolsa cair e molhar algumas fotos que ela mandara revelar.

Puta que a pariu, disse ela, passando a mão na cabeça e tentando enxugar as benditas fotos. Essa menina é complicada mesmo. Pronto, apanhou as fotos e só resta uma dorzinha chata na cabeça, afinal ela não é de ferro.

Finalmente entrou no carro, ligou-o e pensou no trajeto que faria para chegar à sua casa. Maldita a hora em que resolvi fazer compras, tão longe de casa...e olhava pros pés!

Parece que nem todos os dias, são como deveriam, e aquele era um mal dia para a minha amiga. Ia por um CD para ouvir no trajeto, e lembrou que havia esquecido a caixa no outro carro.

Pois é,sem remédio, remediado está, pensou Maysa...ia ouvir o Francis Hime que eu comprei ontem e agora vou de FM qualquer coisa, mas tanto faz. Sempre disse, quem não tem cão, caça indubitavelmente com o gato! Ligou o rádio e a música que estava tocando era “Moonlight Serenade” que era a deles, do casal, dele e dela... meu Deus, isso é azar pra muito tempo, e o choro recomeça, ainda mais forte.

Dirigindo bem devagar foi pegar o marido no escritório, já mais calma e lembrando que aquele cheiro havia lhe proporcionado uma imersão ao passado, um verdadeiro banho de nostalgia. Um encontro com coisas que pareciam enterradas e que vieram denotando que os grandes sentimentos, aqueles verdadeiros, não morrem.

Quem passa por nossa vida sempre nos deixa algo e por vezes deixa muito e certamente levam muito de nós em sua bagagem emocional. São as coisas das quais jamais esqueceremos.

-Fortaleza-

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